quando não existe mais nada a dizer

Ao som de Suzanne Ciani 
 
Música instrumental nunca foi meu ritmo, mas nos últimos tempos, estou me adaptando melhor a ela. Parece que reflete mais fielmente meus sentimentos, meu momento de agora. Acredito, como já falei em outros textos, que a gente acaba se moldando. O tempo molda a gente, lapida. Algumas vezes nos tornamos aquilo que juramos um dia nunca ser. Mas, voltando a falar sobre a música instrumental, algumas vezes sentimos como se já tivesse se esgotado todo nosso vocabulário, e toda aquela lábia, todo aquele arsenal de desculpas e histórias inventadas, tivesse se acabado. 
 
Algumas vezes sentimos aquele vazio de querer dizer algo, mas não ter o que dizer. Isso dói. A lágrima cai. Talvez o nome disso seja aceitação, talvez não. Temos sempre a necessidade de dar nomes as coisas. Os sentimentos não têm nomes, eles são confusos, a maioria deles sem nexo. Como podemos nomear algo assim? Os dias passam e cada vez me convenço mais, de que não posso batizar essa indignação mista com agonia, com algumas pitadas de desgosto, incrementada com arrependimento. Tudo junto em um caldeirão de saudade.
 
Enfim, acabo me perdendo do meu Eu. Desisti. Tirei a ideia fixa de que eu poderia entender a tudo, a todos. Não sou capaz de tanta coisa, por mais esforço que eu faça. O tempo. Me magoar sozinha é o que me resta. Revejo momentos, reouço palavras, sinto toques já passados. Até mesmo meus pensamentos estão vagos, sinto que alguns detalhes estão se apagando. O tempo dilacera tudo. Talvez além de dúvidas, restem também certezas. Quais? Eu abaixo minha cabeça, repito comigo mesma “tudo passa”. Continuo na rotina de seguir sem rumo. Deixei de forçar as portas, parei de procurar as janelas abertas. Mudei de casa. Procurando lugares sem trancas, onde eu não precise me esconder dos olhos da sociedade para poder entrar. Um lugar em que eu me orgulhe em pisar, onde as máscaras não sejam recolocadas ao final de tudo.